Solstício

Nestes últimos meses inverteu a ordem e levou-me até ela. Ofereceu-me uma mesa e comida. Deu-me mimos. Num momento em que eu nem percebia que era mesmo disso que precisava. Comida feita, sentar-me, apenas. Desfrutar. Porque mesmo gostando muito de cozinhar, há outras dimensões da vida que nos roubam tempo e nos cansam um bocadinho mais do que deviam. E por isso, agora que começa o Verão, eu quis agradecer. Agradecer o facto de estar presente na minha vida. Ser atenta, generosa, saber quando sim e quando não. Quando deve estar e quando percebe que precisamos do nosso espaço. Sem cobranças. Tudo tem sido natural, desde que nos conhecemos. Assim um pouco na base da intuição, do querer bem, do ficar feliz porque alguma coisa de bom nos acontece, ou triste quando a vida nos prega partidas. Os amigos bons são assim. Multiplicam as alegrias e aliviam as tristezas. 

E então, ficar feliz só porque sim. Porque havia coisas para dar e para receber. Flor de sal, óregãos do Sul, farinha de alfarroba, doce de damasco, figos em geleia, chouriça caseira, uma cebola (sim, uma cebola gigante!...) e uns pratinhos que andavam desaparecidos aqui nas redondezas. Eu tinha comida para dar. E uma mesa bonita. Receber no Solstício! É ou não bonito? Uma mesa cheia de coisas misturadas. Naquele registo que eu penso que ela gosta. Muitos azuis, verdes e outras cores harmoniosas. Flores pequeninas, para celebrar o Verão, em canecas e frascos. E multiplicar a minha alegria por ver que tinham gostado.

Ainda que o tempo não tenha sido mesmo de Verão, foi bem solarengo, o nosso almoço. A ementa foi escrita numa prenda que a Mar me trouxe de Veneza. E prometia um menú de Solstício cheio de sabores exóticos e intensos, referência a outras memórias e culturas. Chamuças, chutney de ananás, de manga, o de maçã com pimentos e pickles de manga. Anunciava-se um caril de camarão com arroz basmati e pão naan. Por fim, bolo de limão com sementes de papoila e framboesas. Bem condimentado, este almoço de elogio ao sol ;)

Antes do regresso a casa, chá, café e um sumo fresco de laranja, para acompanhar um lanche breve mas reconfortante. Pão de abóbora com nozes, pão de cereais, folarzinhos e doce de morango dela e manteiga de amendoim, para descobrirem outros sabores. Na despedida, a certeza de boas horas vividas. Mais um capítulo escrito da nossa bela amizade. E coube tudo num post ;)