O desafio deste mês propunha convidar um pintor para jantar. Imediata, a minha reacção. Com muitas saudades. Quem me dera poder continuar a jantar com o meu tio-avô Jaime Isidoro, que pintava como ninguém o Porto, as suas cores, o céu e o mar. O meu tio, que partiu em 2009, foi para além de pintor, galerista e fundador da Bienal de Arte de Cerveira. Dinamizou a cidade (e o país) do ponto de vista artístico, e exerceu uma enorme influência sobre outros pintores. Fundou a Galeria Alvarez, a galeria portuguesa mais antiga em actividade, e foi ainda responsável pelo lançamento de muitos outros artistas. As conversas com ele e com a minha tia Maria Marcelina (de quem herdei o serviço cor-de-rosa) eram deliciosas. Muito cultos e interessantes, tinham sempre histórias formidáveis para contar. Outras tantas histórias foram vividas também por nós, sentindo-nos privilegiados por podermos privar com eles. Uns verdadeiros contadores de histórias, de quem realmente temos saudades. O tio Jaime gostava muito de comer. E gostava realmente muito da comida caseira que a minha mãe lhe preparava, já que, como bom artista que era, errava e vagueava por uma meia dúzia de restaurantes de bairro, mas a que era fiel. Vivia de noite, a altura em que pintava e em que a sua criatividade era maior, e dormia de dia. Esquecia-se de coisas simples mas era extremamente metódico e sensorial em tudo o que envolvia a sua arte. Raras vezes chegava a horas às festas de família. Lembro-me de uma vez que apareceu às 19h, para um jantar que seria às 20h, isso porque estava convencido que estava a chegar tarde a um almoço! Para evitar tensões e discussões, passámos a almoçar ou jantar sem esperar que chegasse. Assim, quando nos dava o prazer da sua companhia, comia tranquilo enquanto que nós, de barriga apaziguada, lhe fazíamos companhia. Deixou-nos uma obra imensa, que o Porto tanto gosta e admira. Era um pintor da cidade que nos enche de orgulho.
"Tio, venha jantar. Para início, umas favas guisadas com chouriço, enquanto conversamos das trivialidades que contadas por si têm tanta graça. Há pão, claro. Tem sempre de haver pão e vinho para o Tio. E não chegue tarde, como é seu costume. A comida arrefece..."
Ingredientes
1 chávena almoçadeira de favas arranjadas
1 cebola
1 dente de alho
1 folha de louro
azeite
1 tomate coração de boi
2 colheres de sopa de polpa de tomate
1/2 chouriço de carne de boa qualidade
sal
Preparação
Num tachinho, refogar uma cebola e um dente de alho picados num pouco de azeite. Adicionar a folha de louro e o chouriço partido às rodelas e deixar cozinhar por uns minutos. Adicionar o tomate partido em pedaços pequenos e as duas colheres de sopa de polpa de tomate. Juntar as favas e temperar com um pouco de sal. Se necessário, adicionar um pouquinho de água, e deixar cozer por 20 minutos ou até ficarem tenrinhas. Servir quente, com umas torradas de pão de centeio ou de broa a acompanhar.
Bom Apetite!
Que bonita homenagem que prestaste ao teu tio. Gostei do quadro que nos mostras, com os Clérigos ao fundo, e das palavras sentidas sobre o homem que o pintou :)E sabes, ao observar a última fotografia, não é difícil associar esse rosto às excentricidades de que falas :)
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo,
Ilídia
Bonita homenagem.
ResponderEliminarEsse prato é tudo de bom.
Bjs
Olá Babette
ResponderEliminarNão poderias escolher melhor, por todos os motivos.
Conhecia o seu trabalho mas longe de imaginar da proximidade contigo. Que felicidade!
Um abraço
Guida
Um artigo muito carinhoso e sem dúvida uma belíssima forma de homenagear um familiar que continuas a tanto admirar.
ResponderEliminarA criatividade e veia artística está mesmo na tua família bem enraizada e com frutos maravilhosos.
Beijinhos e óptima semana
Tenho a certeza que sentes imensa falta do teu tio, que parece ter sido um homem extraordinário :)
ResponderEliminarNunca comi favas, acreditas? Mas sempre que vejo alguma receita fico cheia de vontade :)
Beijinhos e tem uma óptima semana :D
Querida Babette
ResponderEliminarObrigada pela partilha de histórias familiares e por nos recordar o seu tio. Foi um prazer ler a entrada.
bjs
Fa
Que bela homenagem ao teu ti Babette!
ResponderEliminarAdorei conhecer.
E tenho saudades das favas que ainda não chegaram em força na minha horta.
Um beijinho.
Ah ! Favas ! Fiquei derretida a olhar para esta travessa de favas... Ainda não me tinha lembrado delas este ano, e com sorte ainda encontro algumas do ano passado na arca frigorífica da minha mãe... é sempre assim, quando elas estão a chegar!
ResponderEliminarUm prato que o tio Jaime pintor iria certamente apreciar a um jantar desses de familia, na hora em que chegasse. Muito bonita a homenagem, e muito rica que terá sido a sia vida. Gostei muito das suas obras, que agora procurei.
Parabéns Babette, mais uma bela ementa !
Beijinhos da Pipinha !
Ilidia,
ResponderEliminarLanchamos juntas com essa rua que sobe até aos clérigos por trás, lembras-te? E sim, um excêntrico natural que ele era.
Lurdes,
Obrigada
Guida,
Está justificada, a escolha. Foi um privilégio privar com eles. E a obra do Jaime é magnífica. Adoro a paleta de diferentes cinzas e azuis que ele utilizava.
Turista,
De certo que te lembras deles, não? Estiveram no meu casamento, e o meu tio no baptizado dos meninos.
Joana,
As favas já estão aí! Experimenta que vais gostar.
Fa,
Um pintor do Porto mas cuja obra esta espalhada por aí! Já tenho saudades suas. Tem andado muito calada e já comentei isso com a Mar. Espero que esteja bem.
Ginja,
As favas já começaram a chegar a minha cozinha! Felizmente!
Pipinha
Uma obra linda que ele deixou. E saudades generalizadas. De vários quadrantes. As favas deste ano já estão a chegar. E estas eram tão delicadas e tenras. Um mimo. Beijos para ti.
Babette
Delicioso e ternurento este post!
ResponderEliminarUm casal singular que tive o prazer de conhecer!
Beijinhos,
Susana
Delicioso e ternurento este post!
ResponderEliminarUm casal singular que tive o prazer de conhecer!
Beijinhos,
Susana
Perfeito, perfeito, perfeito....
ResponderEliminarÉ o que posso dizer sobre o que foi escrito.
Está um quadro nítido, nítido!
Para quem conheceu o meu tio Jaime, como eu o conheci, está um retrato muito bonito e real. Os meus parabéns!
De Adriano Isidoro
Atendendo ás afirmações efectuadas, será que posso dizer que somos primos?...
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