Se eu pudesse...
Se eu pudesse estar um só dia mais com a minha Avó Ana... Com a Avó que me criou. Que fazia os pratos mais saborosos de que há memória. Que me levava de férias para a praia. Que era linda e vaidosa como ninguém. Que tinha os olhos verdes mais bonitos de todos. Com quem dormi até muito tarde, enrolando-lhe os cabelos louros nos meus dedos pequeninos. A minha Avó Ana era a minha vida. Os meus dias. Não me viu casar mas assistiu aos quase 10 anos de namoro com o Zé, de quem gostava muito. Conheceu a minha primeira casa mas não a viu mobilada. Dado que a minha veia culinária só se manifestou depois de casar, não creio que tivesse alguma vez provado nada mais do que algum arroz branco feito por mim. Que pena tenho de não lhe poder adoçar a boca gulosa com bolos feitos por mim. Ou com pratos saborosos de que pudesse gostar. Hoje faço a sua receita de aletria, de rabanadas, de bifes enrolados e de caril. Mas nada tem o mesmo sabor... Se eu pudesse convidá-la para jantar, a refeição seria o menos importante, certamente. Não tiraria as minhas mãos das dela. E tudo seria um imenso abraço...
Por isso, e porque não quereria roubar muito tempo ao tempo de estar com ela, faria o que tivesse disponível. E há tantas vezes combinações inesperadas que resultam em pratos deliciosos! Este foi assim. Confesso que o arroz branco sobrara de outra refeição - vês, avó? faço o arroz branco soltinho como tu fazias! E também sei que achas imperativo reciclar e não estragar comida. Então, em vez de ser simplesmente um arroz aquecido, um prato que fez este arroz ser revisitado. Melhorado. Casado muito bem com um salteado de cogumelos e beringela. Já provaste molho de soja? Claro que sim, que cabeça a minha... Adoravas ir ao restaurante chinês! Vou colocar um bocadinho...
Ingredientes
1 chávena de chá de arroz branco cozido
4 cogumelos biológicos grandes
1/2 beringela biológica grande
alho, azeite, molho de soja
cebolinho
Preparação
Numa frigideira colocar um fio de azeite. Quando estiver quente, juntar a beringela partida em palitos e com a casca. Deitar o alho e mexer bem por uns minutos. Adicionar os cogumelos e deixar cozinhar por mais um minuto ou dois. Regar com um pouquinho de molho de soja e deixar cozinhar por uns 10 minutos. Juntar então o arroz cozido e envolver bem. Não deverá ser necessário colocar sal, mas o melhor será provar nesta altura e rectificar os temperos, se for caso disso. Deixar aquecer bem o arroz e servir de imediato, polvilhado com cebolinho.
Bom Apetite!
Participação no 13º desafio do "Convidei para Jantar"
este mês promovido pelo blog "Pão de Cereais"
E por estes dias, uma pausa. Férias desejadas depois de muitos meses de trabalho. Férias também deste espaço virtual onde partilho tanta coisa. Faz bem querer sentir saudades das coisas. De casa, dos sítios. Quero ter saudades deste sítio que é a Festa de Babette. Até Breve!...
Ficou um arrozinho bem completo e adorei a junção de ingredientes.
ResponderEliminarBom fim de semana
Kiss, Susana
Nota: Ver o passatempo a decorrer no meu blog:
http://tertuliadasusy.blogspot.pt/2013/06/3-edicao-do-projeto-escolha-do.html
Ao ler este texto maravilhoso, fiquei com as lágrimas nos olhos, fiquei com saudades da minha avó se eu pudesse...
ResponderEliminarBoas ferias, divirta-se :)
Bjo
O teu texto é muito comovente. E tão água. Por ser límpido, verdadeiro. Tens muita sorte por teres essas memórias todas, sabias? Isso das ligações familiares nem sempre é como água.
ResponderEliminarMuito possivelmente, gostas tanto de fazer comida por causa dela. Muito possivelmente, os aromas e os sabores que são ela, serão os que tentas revisitar sempre que cozinhas.
Vive em ti. Vive nos que amou. Nos que a amaram. Amam. No presente. As pessoas acabam por não desaparecer mesmo. O amor que deram em vida eterniza-as. Um lastro cheio de luz, o amor.
Sê muito feliz, nestes dias de "ir embora". Vou lembrar-me de ti e dizer mentalmente que quero que estejas a ser feliz nos lugares por onde andares. Não vai dar é para telefonemas de duas horas:)
Um beijo.
Mar
Que ternura de texto, Babette. Tão bom teres essas memórias da tua avó, sinal de que os vossos momentos foram vividos. É o que importa, depois de tudo. Aquilo que fica. Uma receita, uma música, um cheiro que no-la faz lembrar. Ainda estou a escrever sobre a tua avó e já escrevo sobre a minha, que também me faz muita falta. Se eu pudesse, também a teria à minha mesa. Como gostaria de cozinhar para ela e que ela tivesse conhecido o Manel (chegou a ir ao meu casamento, morreu três meses depois).
ResponderEliminarBoa pausa, bom descanso.
Que voltes revigorada.
Beijos,
Ilídia
Babette,
ResponderEliminarOs avós são muito importantes na construção da nossa personalidade e memória afectiva. Esta tua participação espelha bem o sentimento de ausência daqueles que críamos serem imortais e que um dia, simplesmente, vão, mas que, como disse o meu amigo Zé Augusto em comentário a esta edição, ficam "tatuados nos nossos corações".
Obrigada pela participação e também pela receita, que não podia estar mais em sintonia com o "livro de estilo" do blogue paodecereais e com os tempos de austeridade que correm...
Votos de um excelente descanso para que no regresso "às lides" estejas em plena forma e cheia de força.
Bjs.
Que lindo texto babette e que vontade de comer esse arroz, cheio de mimo e emoção.
ResponderEliminarBoas memórias e belos afectos, juntos tornam a comida especial. Com outro sabor.
Boas férias! Um beijinho.
Texto lindíssimo e que me fez chorar bastante, uma vez que ainda estou no processo de luto da minha avó, faleceu há 4 meses mas ainda não consegui concluir este processo.
ResponderEliminarO teu arroz também está lindo e parece bem gostoso
Bjs e boas férias
Susy:
ResponderEliminarObrigada!
Regina:
Tenho tantas saudades da minha. Faz bem evocar as pessoas que amamos.
Mar:
Escrito de um fôlego, como é meu hábito. E, podes crer, sem grande preparação. As palavras desenrolavam-se ao ritmo das memórias. E tens razão, sabes? A minha Avó Ana, loira de olhos verdes, mora comigo. Nas coisas que tento fazer como ela. Nas memórias de uma infância passada com muito amor.
Ilídia:
Não há como não concordar ;) Ficam todas essas memórias, presentes no efémero dos dias!
PTC:
Obrigada pelo desafio! Muito emotivo, mas foi um gosto participar. A receita pareceu-me enquadrar-se no teu estilo de vida!
Ginja:
Obrigada. Tudo fica melhor com amor e emoção ;)
Isa:
Fiquei comovida ao ler as tuas palavras. Vieram-me as lágrimas aos olhos, também. Lembro-me desse processo inicial de luto, em que tudo e todos me faziam lembrar a minha avó. Não desaparece a saudade, mas vai ficando um processo um pouco mais cicatrizado. Como qualquer ferida, há sempre uns dias em que custa mais. No fim de tudo há as memórias felizes. E essas são nossas. E eternas.
Babette
As avós fazem-nos tanta falta... acho que a tua ia adorar o arroz, quanto mais não fosse pelo gesto e pelo texto tão carinhoso :)
ResponderEliminarBom descanso! Um beijinho
Teresa
PS: talvez vá a Veneza em breve, vou reler os teus posts!
Calhou mesmo bem esta receita que tenho cogumelos frescos e beringela à espera de ser usadas n frigorifico! ;)
ResponderEliminarAs avós são preciosas nas nossas vidas... as minhas passaram fugazmente pela minha existência mas...deixaram marcas. Não pelo que faziam na cozinha mas, pelo amor com que me pegaram ao colo e adormeceram o meu sono de criança.
ResponderEliminarTambém recordo a "Avó Ana" com muita saudade e o modo engraçado como ela contava episódios da sua juventude e não só...o seu modo de rir ainda brinca dentro de mim.
Acredito que as tuas duas avós se debruçam numa nuvem qualquer do céu e riem-se felizes pelo sucesso da sua neta, que lhes herdou as qualidades culinárias e o espírito de economia de quem sabia mutiplicar os cifrões...
Férias felizes com o Zé e tragam muitas fotos lindas dos sítios que vos encantarem. Beijocas
Tia
Oh, de certeza que a tua avó ia adorar comer este pratinho que tem tão bom aspeto.
ResponderEliminarKiss, Susana
Nota: Ver o passatempo a decorrer no meu blog:
http://tertuliadasusy.blogspot.pt/2013/06/3-edicao-do-projeto-escolha-do.html
Olá Babette !
ResponderEliminarMuito bonito esse teu sentir a avó. As palavras que chegam tão bem a um afecto tão único. Os dedos pequeninos no seu cabelo louro. Mesmo bonitas todas essas recordações. Sempre de lembrar e trazer para o nosso hoje, quem se gostou e gosta tanto.
E pronto, passados alguns dias de falarmos, do Pedrinho nascer, volto.
Boas férias, boa pausa, muito descanso e sol !
da Pipinha e do Pedrinho ;)
Olá Babette,
ResponderEliminarAs avós são realmente especiais, mimam-nos, educam-nos, ouvem-nos... Eu também fui educada pela minha avó e perde-la foi algo esperado mas tão doloroso. Restam-nos as recordações e essas ninguém nos pode tirar.
Uma receita deliciosa para uma convidada especial. Parabéns pela participação tão emotiva e verdadeira.
Bjnhos e umas férias fabulosas.
http://saborescomtempo.blogspot.pt/